26 junho 2014

Desafio Literário do Tigre - Mês de Junho: Autores Queridos. Ensaio sobre a Cegueira!

Tenho uma lista imensa de autores queridos, e escolher somente um, foi uma tarefa um tanto árdua, mas resolvi escolher um autor que me fez passar da transição de livros como A droga da obediência, Estrelas Tortas e Harry Potter, para livros mais elaborados e eis que foi José Saramago. Mesmo já tendo lido muitas obras de Saramago, não li seu mais famoso "Ensaio Sobre a Cegueira". Não por falta de interesse, mas por adiamento, sempre adiando, botando o tempo na frente e aí foi passando e não li, mas eis que surgiu essa oportunidade excelente para ter mais um pouco de Saramago na minha vida.



Sinopse:

"Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O "Ensaio sobre a cegueira" é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".


Saramago realmente se superou  neste livro, ele leva o ser-humano a questionar sua própria humanidade. 

"É desta massa que nós somos feito, metade de indiferença e metade de ruindade."

A veracidade com que ele trata os traços da nossa personalidade é feroz, intrigante e real. Saramago anda como ninguém pelas nuances do que o nós somos realmente. Diante da perda de apenas um sentido(visão), a cegueira branca transforma todos em projetos do que realmente são, ou pensam ser. Os homens perdem o sentido de sua racionalidade, é a luta pela sobrevivência descaracterizando a humanidade passo a passo. Chega a doer ao enxergar em meio a cegueira que no fundo temos algo que pode sair a qualquer momento em situações extremas. 

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

O livro é totalmente atemporal, infelizmente não mudamos. Talvez minha filha quando ler terá o mesmo impacto que tive e quem leu anteriormente teve também. Porque a sociedade evolui cada dia mais tecnologicamente, mas retrocede na convivência humana e social. Cada dia estamos mais egoístas e imersos em nossos próprios problemas, o mundo é bom enquanto nossa vida está boa. E daí se a do seu próximo não está, você não tem tempo pra ajudar ninguém, olha sua vida, você vive em correria para dar conta dos seus afazeres, como ainda vai ajudar alguém? Esse é o pensamento que rege nossa atual sociedade, porque no fundo sabemos que podemos sim ajudar alguém, e que existem diversas formas de fazer isso.

"A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

O livro todo é uma metáfora, a personagem que é a única a não perder a visão, é benevolente, auxiliadora, calma, tem amor verdadeiro e oferece ajuda quando todos viram as costas. Isso não seria a luz na escuridão? Cada personagem principal é uma metáfora social, a prostituta, o ladrão, todos. Outros personagens usam a cegueira, como pretexto para seus erros, se utilizam do caos para produzir o medo. 

Dando e exemplo, mais bobo, vemos cotidianamente nos noticiários que quando ocorrem manifestações com comércios depredados, pessoas se aproveitam para saqueá-los, não há desculpa ou motivo que explique isso, é crime, é roubo. Então, olha mais um soco de Saramago na população, em momentos de caos, não se produz união e sim egoísmo e medo. As pessoas quebram as regras facilmente, então vejo em alguns discursos as pessoas falando mal das regras. Mas gente, é por isso que ela existe porque nós,seres humanos não somos capazes de nutrir uma sociedade sem regras, sem leis, o mundo seria catastrófico, o colapso já teria chegado a décadas. Homens matando sem motivo, roubando por desculpas, quando a única razão real é a falta de caráter e compaixão. Coisas que somente em tempos de crises são realmente mostradas.

No fim do livro, os personagens vão recuperando a visão da mesma forma inexplicável que as perderam e só em tão vão se dando conta, na lama que se enxertaram quando perderam um único sentido. Talvez o mais simbólico de todos, no qual as pessoas usam como bengala. Eu não cuidei da natureza porque não vi a que ponto chegaria, joguei lixo no chão porque não vejo a enchente que assola famílias, não ajudei aquela criança, porque não a vi pedindo ajuda. Quantas desculpas usamos em vão usando a cegueira?

O mundo progride tecnologicamente, economicamente, em termos de moda, vibrações, mas regride cada vez mais na alma. Citando Renato Russo que já imaginava isto: "Diga o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição..."

A absorção que este livro provoca é tamanha, deveríamos todos ler e pensar no mal que fazemos a sociedade quando nos tornamos só espectadores da nossa própria vida. Quando a simples perda de um sentido nos torna animal de nossas atitudes egoístas. Cada ser provoca um impacto sócio- ambiental, não somos só um imerso em nosso cotidiano, somos alguém que podemos mover muito, basta enxergar.

"Por que foi que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem, cegos que vendo, não vêem."


Pam.


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8 comentários:

  1. Não é meu estilo de leitura, mas adorei sua resenha e o que falou dele, os trechos em destaque! (:

    Beijos
    www.heyealaysa.com

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  2. Não sou muito de leitura, mas esse fiquei curiosa. Sou voluntaria em um instituto de deficientes visuais e amoooooo! Os admiro muito!
    Beijos!

    www.arteecharme.com

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    1. Nossa que legal sua atitude, se quiser alguma hora contar pra gente aqui na coluna como é, para estimular mais pessoas a ajudarem!Fique à vontade!
      Beijos!:)

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  3. Deu até arrepios, li muito tempo antes de assistir a versão cinematográfica e até hoje não tive mais coragem de ler aheuaheua
    Acho pesado, insanamente REAL e se pararmos para pensar, a metáfora com a realidade não está muito longe, Saramago realmente é um dos melhores e merece todas as recomendações, excelente post :)

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    1. Obrigada. Esse livro é visceral mesmo, de um jeito mórbido e intrínseco né?! Acho que ler somente uma vez basta para causar impacto suficiente. Aquele soco na boca do estômago basta somente uma vez né?!
      Obrigada pelo elogio. :)

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  4. Ainda estou em uma fase de sei-lá-sei-não com o saramago, haha. Li o "Intermitências da Morte" e achei bom, mas não chegou a ser um daqueles livros que te pegam pelos cabelos e te arrastam. Acho que eu também cheguei nele com muitas expectativas.

    O "Ensaio Sobre a Cegueira" eu estou para ler há um tempão. Não assisti nem ao filme, querendo ler o livro antes, e acabou que eu ainda não fiz nem uma coisa nem outra! Mas agora com o seu texto vou ver se me animo!

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    1. Eu pessoalmente, achei Ensaio sobre a Cegueira melhor que Intermitências da Morte, mas eu tenho esse carinho pessoal pelo Saramago, então isso pode interferir em meu juízo de valor!hahaha
      Mas acho que valeria a pena você ler e obter essa percepção também!:)

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